segunda-feira, 1 de outubro de 2007

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Senhas


Quantas senhas vc possui na internet?

Consegue lembra-se de todas?

Eu não consigo . . . escrevo-as todas (quase todas!) num livro . . . as vezes me esqueço onde guardei o livro . . . outras vezes me esqueço de escrever uma senha nova no livro . . . o mais comum é acreditar que a nova senha (e login!) é muito simples e óbvia para ser escrita no livro . . . me ferro!!!!

Esqueço senha, login e o escambau!!!


Berimbau!!! O munda dá voltas e a memória retorna trazendo as senhas esquecidas . . . alívio!

Havia me esquecido de senha e login deste lugar virtual . . . qual seu nome? qual sua senha?

Vc sabe qual será o dia de sua morte? Não!!! Então nada sabe!

Eu não sei da minha . . . como lembrar-me de uma entre tantas senhas e logins . . . tantos nomes e sobrenomes . . . tantos rostos e máscaras . . . tantas faces de Deus


quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Então Tá!!!

Um amigo me informou que ninguém tem paciência . . . ou tempo . . . ou interesse . . . o que seja, para ler mais do que cinco linhas numa página da internet . . . :(
Putz! E agora?
Paciência!!!!

De todo modo, passarei (ao menos tentarei) não impacientar tanto meus amigos que por aqui passam, velozes e faceiros rumo a qualquer lugar . . . em busca do Graal

Da experiência

Como nos orgulhamos em afirmar sobre a incomensurável significância de nossa adquirida experiência . . . infelizmente, para o EGO que nela se apóia, não é assim como (a)parece.
O que a ciência atual nos traz são informações de que a maior atividade cerebral acontece ali onde não são tão consideradas as experiências adquiridas.
É na Infância, onde a tal da "experiência" não encontra eco, que podemos acompanhar a incrível atividade cerebral que se faz diante da novidade.

O Novo: velocidade e agilidade na apreensão/percepção do objeto.
É onde o mais rápido, ágil e veloz devora o mais experiente . . .

Experiência = linhagem = continuidade

Novo = Desconhecido = Des-continuidade = Avatara

Ave rara!!!
Fui . . .

domingo, 31 de dezembro de 2006

Sobre Amizade

Novo Ano começando.
Momento de reflexão, avaliação e planejamento.
“O que fiz do tempo que passou?”
“O que farei do tempo seguinte?”
Pois é, ao entrarmos na existência temos que o limite torna-se nosso companheiro inseparável
. . . “Eu não sei nem mesmo a data da minha morte!” . . . destaco então que, nesta caminhada, importa as Amizades que cultivamos.
E neste papo de Amizade, vale destacar alguns pontos que considero “supimpas” . . .
Afirmar que a tradição ocidental do pensar, iniciada [lá e então] com os filósofos gregos, elegeu a Amizade como o pano de fundo do saber, é onde começamos. Etimologicamente, falar em "filosofia" nos remete para o "amor da sabedoria", ou ainda, ao "amigo da sabedoria" [confesso que sempre achei extremamente elegante o significado deste termo].
Existe um diálogo de Platão dedicado exclusivamente ao tema da Amizade, chama-se: "Lísis ou da Amizade". Os protagonistas deste diálogo são Sócrates, Lísis, Hipótales, Ctesipo e Menéxeno [poderiam ser: João, José, André, Lucas e Pedro – e passar-se nos dias atuais]. A primeira perguntinha básica que Sócrates lança, a respeito da amizade, é a seguinte:
". . . quando alguém ama outra pessoa, quem se torna amigo: quem ama é o amigo do amado, ou é o amado o amigo de quem ama? Ou não haverá diferença?".
Se teu cérebro não torceu nesta frase, leia novamente, pois importa justamente bem realizar esta torção.
A reciprocidade, que num primeiro relance parece ser a correta resposta, mostra-se insuficiente . . . existem certos estados de Amizade que não são retribuídos; por exemplo(?) a Amizade pela própria Sabedoria (aquela desenvolvida pelo filósofo); ou a Amizade pelo vinho . . . dois exemplos de estados de Amizade que não são retribuídos pelo ser amado.
Conclusão surpreendente de Sócrates – neste momento do Diálogo – é a de que ". . . se o amigo não é nem o que ama, nem o que é amado, nem, ainda, os que amam e são amados? Ou haverá, fora desses casos, quem possamos considerar amigos entre si?". Mesmo a hipótese da Amizade ter como característica nascer entre semelhantes não se sustenta; como demonstra Sócrates: “haverá alguma amizade entre dois malvados?”.
Isto faz implicar que a Amizade só pode nascer entre semelhantes que sejam ao mesmo tempo pessoas de bem. Sócrates diz então à Lísis:
"Assim, meu caro, sou de parecer que quando dizem que o semelhante é amigo do semelhante, querem significar que apenas o homem de bem é amigo do homem de bem, e que os maus nunca chegam a formar verdadeira amizade, nem com os bons nem com os maus."
Gente boa esse tal de Sócrates . . .
Porém, como o bom se basta a si mesmo, não necessitando de nenhum auxílio naquilo em que se basta, não necessita de nada e, a nada se tornará afeiçoado. Putz! Então, a Amizade, se não é fruto de um relacionamento entre semelhantes (tanto faz se bons ou malvados), será que pode nascer de um relacionamento entre contrários?
Sócrates responde negativamente a esta pergunta.
A pergunta seguinte nos coloca na interrogação sobre a possibilidade de haver então Amizade entre pessoas dotadas de qualidades absolutamente contrárias . . . e mais uma vez Sócrates nos oferece uma resposta negativa.
O ponto onde chega o filósofo é o de que só podem ser amigos aqueles que não são nem totalmente bons nem totalmente maus. E são amigos daquilo que é Belo e/ou Bom. Ou seja, "o que não é nem bom nem mau torna-se amigo do bem em virtude da presença do mal". Mas então, se deixássemos de lado a presença do mal, não seria necessária a amizade ao bem; e ainda assim seríamos amigo de alguma coisa. O que vemos então, conduzidos por Sócrates, é que não é o mal a origem da Amizade. Ainda bem!!! Qual será então a causa da Amizade? O que nos impulsiona a amar e a sermos amados?
O próximo passo de Sócrates nos leva a concordar que amamos, que desejamos, aquilo que nos falta. E que, se nos faz falta, é porque dele fomos privados. Sendo assim, "o amor, a amizade e o desejo, . . . , ao que parece, se relacionam com o que nos é próprio". A Amizade, então, acontece porque alguma coisa que existe pertence aos dois seres que se amam. Só sentimos Amizade, ou Amor, ou Desejo, por aquele ou aqueles com os quais nos identificamos. Daí Sócrates concluir que:
". . . amamos necessariamente o que nos é próprio."


E é justamente sobre este misterioso processo das identificações que Freud, mais de dois mil anos depois de Platão, se debruçará, a fim de procurar responder sobre os movimentos que fazem com que os homens se reúnam e permaneçam reunidos. Freud explica (?).
É inegável a contribuição de Freud para o entendimento da vida social. No seu texto "Psicologia de Grupo e a Análise do Ego" (alguém aí é de 1921?), o barbudo procura "lançar luz sobre a psicologia de grupo" a partir da utilização do seu conceito de Libido. P'ro Dr., Libido pode ser definido da seguinte maneira:
"Libido é expressão extraída da teoria das emoções. Damos esse nome à energia, considerada como uma magnitude quantitativa (embora na realidade não seja presentemente mensurável), daqueles instintos que têm a ver com tudo o que pode ser abrangido sob a palavra 'amor'. O núcleo do que queremos significar por amor consiste naturalmente (e é isso que comumente é chamado de amor e que os poetas cantam) no amor sexual, com a união sexual como objetivo. Mas não isolamos disso - que, em qualquer caso, tem sua parte no nome 'amor' - , por um lado, o amor próprio, e, por outro, o amor pelos pais e pelos filhos, a amizade e o amor pela humanidade em geral, bem como a devoção a objetos concretos e a idéias abstratas. Nossa justificativa reside no fato de que a pesquisa psicanalítica nos ensinou que todas essas tendências constituem expressão dos mesmos impulsos instintuais; nas relações entre os sexos, esses impulsos forçam seu caminho no sentido da união sexual, mas, em outras circunstâncias, são desviados desse objetivo ou impedidos de atingi-lo, embora sempre conservem o bastante de sua natureza original para manter reconhecível sua identidade (como em características tais como o anseio de proximidade e o auto-sacrifício)."
É interessante percebermos que através da implicação do conceito de libido no estudo da vida dos grupos, Freud acentua a importância da noção de "Amor" na constituição e manutenção da Vida no interior e entre os diversos grupos. A hipótese central em sua observação da vida grupal é a de que as relações amorosas, os laços emocionais, constituem a base sob a qual se constitui a trama da vida social. Sua argumentação em favor desta hipótese encontra apoio em dois pontos. O primeiro é de que somente um poder pode fazer com que um grupo se mantenha unido: "Eros, que mantém unido tudo o que existe no mundo". O segundo ponto é o de que a busca da identificação entre os membros num grupo, só é possível quando o indivíduo abre mão de sua “distintividade”, buscando desta forma estar em harmonia com o grupo - "ihnen zu Liebe” (“pelo amor deles”).
A partir do estudo de dois grupos específicos (o Exército e a Igreja), Freud considera que são de dois tipos os laços emocionais que dominam os grupos: 1) o laço estabelecido com o líder; 2) o laço mantido entre os membros do grupo. É interessante percebermos: desta maneira Freud indica que os laços libidinais estabelecidos com outras pessoas são o fundamento da vida intragrupal à isto implica em uma limitação do narcisismo. No entender de Freud, "o amor por si mesmo só conhece uma barreira: o amor pelos outros, o amor por objetos". Para Freud, o grande responsável pelo desenvolvimento do processo civilizador é o "Amor", ou seja, o estabelecimento de laços Libidinais . . . Liebe, Liebe, Liebe . . .
"E isso é verdade tanto do amor sexual pelas mulheres, com todas as obrigações que envolve de não causar dano às coisas que são caras às mulheres, quanto do amor homossexual, dessexualizado e sublimado, por outros homens, que se origina do trabalho em comum."
Para compreender a natureza dos laços libidinais no interior dos grupos, Freud lança sua atenção para os processos das "identificações". Daí extrai três conclusões: 1) "a identificação constitui a forma original de laço emocional com um objeto"; 2) de maneira regressiva, a identificação "se torna sucedâneo para uma vinculação de objeto libidinal, por meio da introdução do objeto no ego"; 3) a identificação "pode surgir com qualquer nova percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa que não é objeto do instinto sexual, sendo que quanto mais importante essa qualidade comum é, mais bem sucedida pode tornar-se essa identificação parcial, podendo representar assim o início de um novo laço".
Freud considera que o Laço Emocional existente entre os membros de um grupo é decorrente de uma Identificação deste terceiro tipo; onde a Identificação possui mais relação com aquilo que gostaríamos de ser . . . “aquilo que gostaríamos de Ser”. Neste sentido, "a identificação esforça-se por moldar o próprio ego de uma pessoa segundo o aspecto daquele que foi tomado como modelo". Ao estabelecer a existência "daquele que foi tomado como modelo", Freud nos aponta a característica diferenciadora com relação a ser o homem não um animal gregário, mas sim um animal de horda. “Qual a diferença?” A diferença incide justamente na existência de um “chefe”, de um “líder” condutor da horda.
à "Muitos iguais, que podem identificar-se uns com os outros, e uma pessoa isolada, superior a todos eles: essa é a situação que vemos realizada nos grupos capazes de subsistir."
Neste ponto Freud parece estabelecer uma distinção entre dois tipos de psicologias; 1) uma psicologia individual e 2) uma psicologia do grupo. Apenas o “líder” possuiria uma psicologia individual, os demais membros do grupo estariam sujeitos a uma psicologia do grupo. Psiquismo Individual e Psiquismo Coletivo . . . Nos dizeres de Freud:
"Os membros do grupo achavam-se sujeitos a vínculos, tais como os que percebemos atualmente; o pai da horda primeva, porém, era livre."
Neste contexto, o termo "livre" está significando a existência de poucos vínculos libidinais. Segundo Freud, a única coisa que poderia impor um certo limite a natureza dominadora e narcísica do líder da horda seria o "Amor". Desde o seu ponto de vista podemos entender o "amor/vínculo libidinal" como sendo um importante fator de civilização.
A partir de sua teoria da libido, Freud estabelece algumas relações e distinções entre os estados de “estar amando” e de “formação grupal”. Para ele, "estar amando baseia-se na presença simultânea de impulsos diretamente sexuais e impulsos sexuais inibidos em seus objetivos, enquanto o objeto arrasta uma parte da libido do ego narcisista do sujeito para si próprio. Trata-se de uma condição em que há lugar apenas para o ego e o objeto". O estado de formação grupal baseia-se, por sua vez, totalmente em impulsos sexuais inibidos em seus objetivos, na substituição do ideal do ego pelo objeto, e também na identificação com outros indivíduos, por terem eles o mesmo tipo de relação com o objeto. Podemos dizer, seguindo as idéias de Freud, que as relações de Amizade encontram-se justamente dentro deste estado de formação grupal.
Entendendo que o Processo Civilizatório é dependente do relacionamento entre um número considerável de pessoas . . . podemos confirmar a importância que as relações de "Amizade" possuem. A "Amizade" pode ser entendida, em Freud, como: Amor Inibido em sua Finalidade . . .
"O amor com uma finalidade inibida foi de fato, originalmente, amor plenamente sensual, e ainda o é no inconsciente do homem. Ambos - o amor plenamente sensual e o amor inibido em sua finalidade - estendem-se exteriormente à família e criam novos vínculos com pessoas anteriormente estranhas. O amor genital conduz à formação de novas famílias, e o amor inibido em sua finalidade, a "amizades" que se tornam valiosas, de um ponto de vista cultural, por fugirem a algumas das limitações do amor genital, como, por exemplo, à sua exclusividade".
As relações de Amizade visam justamente fortalecer os vínculos comunais através do estabelecimento de fortes identificações entre os membros . . . “Fala, Galera!!!”. Para que esse objetivo seja alcançado é inevitável que ocorra uma restrição à vida sexual. As idéias de Freud apontam para a importância de uma discussão a respeito do tema da Amizade, para se realizar uma melhor compreensão dos fundamentos da vida social.
Francisco Ortega (“Amizade e Estética da Existência em Foucault” - 1999) pretende justamente trazer à discussão o tema da "Amizade" no pensamento de Michel Foucault . . . que turma, hem?; Sócrates, Freud e Foucault!!! . . . como um aspecto de sua obra ao qual, até o presente momento, deu-se pouca atenção. O autor atenta para o lance de que o conceito de "Amizade", em Foucault, "toma apenas forma (impressionista) nas suas entrevistas", pois os seus livros não tratam diretamente deste tema. Segundo Ortega, "a amizade representa uma procura e uma experimentação de novas formas de relacionamento e de prazer; uma forma de respeitar e intensificar o prazer próprio e do amigo". Deste ponto de vista, a Amizade representa um jogo agonístico e estratégico, que consiste em agir com a mínima quantidade de domínio.
Porém, diferente de Freud, Foucault não vê a Amizade destituída de seus conteúdos sexuais. Para Foucault, a Amizade se realiza até mais intensamente através das trocas sexuais. A Amizade, juntamente com a Sexualidade, são tematizados por Foucault com o objetivo de constituir uma Estética da Existência alcançável através de um certo trabalho/investimento sobre si mesmo . . . uma forma de ascese, que encontra na Amizade o seu eixo central.
Para Ulrich Beck a sociedade moderna constitui-se de tal forma que o indivíduo se percebe cada vez mais diante de um contexto social inseguro, podendo contar apenas consigo mesmo para configurar uma forma de existência capaz de superar as dificuldades trazidas pelo processo de modernização. Para Beck e outros sociólogos, a sociedade moderna se caracteriza por uma forma tríplice de individualização:
"a. deslocamento das formas sociais historicamente prescritas, como a família, o matrimônio, a profissão; b. perda da segurança obtida mediante normas, crenças e conhecimento da ação; c. estabelecimento de novos vínculos na forma de dependência do mercado de trabalho, do consumo e da mídia."
Desta dissolução (lembrem-se: “Tudo que é sólido desmancha no ar!”) das formas tradicionais de relacionamento, emerge a figura que melhor caracteriza nossa época, o solteiro (“é mole?”). Este personagem tem a plena capacidade de cultivar uma intensificação de sua rede de Amizades. Daí a idéia de que o indivíduo é o arquiteto de uma ampla rede de relacionamentos sociais por ele próprio cultivada. A Amizade aparece, nesta forma de pensamento, como uma alternativa, uma saída situada entre "uma saturação de relações surgidas da dinâmica da modernização e uma solidão ameaçadora". Foucault, porém, não privilegia na Amizade sua função compensadora, prefere sublinhar o potencial caráter transgressor da Amizade . . . “Amigos do Mundo: Uni-vos!”
Interessa essencialmente captar da Amizade que ela pode ser constituidora de diferentes formas livres de comunidade. Ou seja, "a amizade é uma forma de vida, cuja importância reside nas inúmeras formas que pode encarnar". Enquanto forma de vida, vale a pena ressaltar que este conceito, introduzido por Giorgio Agamben, vem definir:
". . . uma vida inseparável de sua forma e no qual precisamente a forma de vida é o importante. O conceito exprime um tipo de comunidade definido através das possibilidades de vida."
O conceito de Amizade aparece como um elemento de ligação entre os fenômenos de elaboração individual e de subjetivação coletiva. Para Foucault, a Amizade é um convite à experimentação e criação de diferentes estilos de vida e de comunidade. A Amizade aponta justamente para a possibilidade de intensificação da experimentação de formas de vida. Fiquemos com a seguinte citação de Foucault sobre o conceito de forma de vida:
"O conceito de forma de vida parece-me importante. Não se deveria introduzir uma diferenciação mais sutil, que não procedesse segundo classes sociais, grupos profissionais ou níveis culturais, mas orientada para o tipo de relação, ou seja, para o 'modo de vida'? Um modo de vida pode ser compartilhado por indivíduos que se diferenciam em relação à idade, ao status e à atividade social. Pode conduzir a relações intensas que não se assemelhem a nenhuma relação institucionalizada. E um modo de vida pode culminar, creio, em uma ética e uma cultura."


É isso aí Galera . . .



Por enquanto é isso . . .

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Kung Fu - Wu Shu - "Tempo de Habilidade"


Considero que a melhor tradução para todos esses termos é “HABILIDADE”. É certo que a maioria de nós (os mais velhinhos!) possui uma imagem do que vem a ser o “Kung Fu” a partir do seriado de televisão de mesmo nome . . . e não é que um dia desse eu vi que lançaram a série em DVD . . . este seriado fez enorme sucesso durante a década de 70 no Brasil. Contava a história de um monge budista, mestiço sino-americano, que imigrava para o Oeste dos Estados Unidos da América em busca de seu irmão desaparecido. Formado Monge do lendário Templo Shaolin, Kwai Chang Caine é um mestre das artes marciais do kung-fu e da doutrina taoista. Uma outra imagem, anterior a esta, que marca e investe a prática do kung-fu é a do herói de cinema Bruce Lee. Com um estilo mais violento, um porrador, Bruce Lee também conquistou as platéias cinematográficas de todo o mundo com seus golpes potentes e sem muita “filosofia de botequim”, o que movia o pequeno dragão era o impulso de vingança - tema da maioria (senão de todos!) de seus filmes. É curioso que foi Bruce Lee quem primeiro pensou em um seriado de televisão cujo principal personagem seria um monge budista no Velho Oeste Americano. Claro que na sua visão ele próprio interpretaria o herói lutador, desferindo muitos golpes potentes nos vilões americanos . . . pancadaria total. Não colou!!! Um outro ator, americano, foi escolhido para interpretar o papel. Seria demais para os empresários americanos lançar um herói mestiço oriental, baixinho, derrubando americanos corpulentos.
Enfim, o que temos são algumas imagens que chegam rapidamente na mente quando falamos a palavra mágica - KUNG FU. Muita “porrada” p'ra todo lado.
Será que isso corresponde?
Nas Academias da Malhação . . . martelo no ferro na bigorna . . . o caminho principal para a divulgação desta prática é como Luta. O sentido é indicado através de um modo de defesa pessoal e de um esporte de combate.
Então, consideremos que não é este o nosso objetivo aqui/agora. Qual é o nosso objetivo então? Pensemos em MOVIMENTO, como sendo o nosso objetivo. O que esta palavra evoca em nós? Ginástica? Malhação? Muito suor? Cansaço físico? Dor? Esforço?
Fui procurar! Pelo caminho encontrei com “um tal de” Moshe Feldenkrais. Um título bastante sugestivo: “Consciência Pelo Movimento - Exercícios fáceis de fazer, para melhorar a postura, visão, imaginação e percepção de si mesmo” (Awareness Through Movement - 1972). Quem é Feldenkrais? Ele é um físico que estudou biomecânica e ao que parece se interessou pelo corpo humano, não enquanto estátua, mas enquanto movimento, alma. Pouco conheço de seu trabalho, mas do pouco que vi achei interessante. Primeira frase do referido livro: “Nós agimos de acordo com a nossa auto-imagem”. Segunda: “Esta, que, por sua vez, governa todos os nossos atos - é condicionada em graus diferentes por três fatores: hereditariedade, educação e auto-educação”. Sua área de atuação é justamente a da auto-educação; portanto auto-conhecimento. O livro é dividido em duas partes, na primeira ele tece um referencial teórico e na segunda propõem diversos ‘exercícios’ (palavra contaminada - seria interessante trabalhar a carga emocional negativa desta palavra). Não vou aqui me estender mais em sua obra. Apenas apontar que é interessante. Quem tiver mais interesse, a obra foi publicada pela Summus Editorial.
Vou falar um pouco de nossa prática, desta ‘ginástica’. De nossas práticas, trago uma pergunta recorrente sobre a origem ‘disto’: "quem inventou?", "quem é que fez?" . . . Confesso que nunca me interessei muito por isso; mas, enfim, vamos tentar. . . O que dizem é que por volta do ano de 502-549, Bodhidharma ("Tamo" para os chineses) levou da Índia para a China uma série de exercícios respiratórios chamados YI KIN KING. Os monges do mosteiro Shao-Lin (Shao-lin sseu), localizado no monte Song-Chan desenvolveram, sob a orientação de Bodhidharma, um estilo de self-defense eficaz, que tinha como objetivo mantê-los em boa condição física. Esta ‘ginástica’ é aliada a uma concepção diferente do budismo - Chan (China); Sun (Coréia); Zen (Japão). Conta o mito que 18 discípulos de Sáquia-Muni teriam praticado 18 movimentos vulgarizados por Bodhidharma. Mais tarde eles foram aperfeiçoados para uso dos leigos por ordem do imperador T’ai-tsou (960-975). E no período do general Yo Fei, 12 exercícios foram aplicados para o treinamento de soldados. Uma tradução possível dos termos pelos quais designamos esta prática seria aproximadamente a seguinte:

Significado dos Termos em Chinês e Japonês
CHINÊS: WU / SHU / TAO
JAPONÊS: BU, MU / JUTSU / DO
SIGNIFICADO: MARCIAL, GUERREIRO / ARTE-TÉCNICA / CAMINHO-DOUTRINA

Também temos para trabalhar, a imagem de um guerreiro . . . ou uma guerreira, o que importa é a vontade . . . em movimento, passos largos, cabeça erguida, olhar firme, vigoroso, determinação em seu movimento. Basta ver um filme de Akira Kurosawa (“Os Sete Samurais” por exemplo) para entender este movimento característico do guerreiro.
Esta arte compreende exercícios respiratórios, movimentos baseados em animais, movimentos giratórios com braços e pernas, saltos, cambalhotas, manuseio de armas brancas, combate a mão-livre e combate com armas. Paro por aqui este pequeno histórico do Kun Fu.
Me pergunto: E DAÍ?
A principal característica de tudo isto, seja na China, na Coréia, no Japão . . . ou seja lá onde for, com a técnica e o nome que tiver (Wu Shu; Tae Kwon Do; Karatê Do), é ser um tipo de movimento que apresenta uma característica comum. Ou seja, são movimentos executados com vigor e energia. São movimentos fortes e rápidos. Movimentos de preparação para a luta. Movimentos de encenação . . . ritualizam um combate.
Continuo me perguntando: E DAÍ?
O QUE PODEMOS FAZER COM ISTO AQUI / AGORA?
Podemos fazer um universo de coisas. Mas em todas estas infinitas coisas, interessante é propor algumas dicas importantes e essenciais . . . pra quem?
1) É saudável que não tentemos imitar o movimento que o instrutor faz, da maneira como ele faz. Por que desta preocupação? Para ser uma atividade saudável, cada um deve descobrir, perceber, aceitar, reconhecer, sensibilizar, conscientizar, seu próprio limite físico. Perceber que possui um tônus muscular próprio, uma elasticidade própria, e uma resistência também própria em cada tipo de movimento.
2) Ter sempre em mente que o objetivo é o MOVIMENTO, não este ou aquele movimento, desta ou daquela maneira, mas sim o simples e singular MOVIMENTO. Uma frase: “em mim aquele movimento realizo assim”. Encontre o seu próprio caminho.
3) Esqueça tudo que já viu ou ouviu sobre artes marciais, esportes de combate, lutas de boxe, brigas, discussões, violência. DIVERTA-SE . . . OUSE ALEGRAR-SE . . . Aqui / Agora, é um tempo e espaço lúdicos. Como crianças, devemos estar abertos para aprender. Movimentos estranhos, novos, inusitados, perigosos, difíceis, divertidos, alegres, engraçados. . . Nada é mais difícil do que aprender a ficar de pé e andar. Daí pra frente, é “mole”.
4) Converse o tempo todo com você mesmo, com o seu corpo. . . sinta-o - quente, molhado, vibrante, pesado, vigoroso, rápido, lento, elástico, rígido, suave, etc. . .
5) Não se preocupe com certo ou errado - apenas faça - invente o seu movimento a partir do que vê. . .
6) O imperativo é a comunicação - contato e saúde.
Portanto, o que importa assinalar é que o Caminho (Tao; Do) É percorrido com o sentido e a intenção de entrar em contato com movimento . . . com a alma de cada praticante . . .
(Niterói / março 1998)

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Começando a Caminhar

Pros que caminharam junto . . . pros que chegaram cedo . . . ou que dormiram demais . . . ou que viraram a noite e foram treinar . . . que perderam treino por preguiça . . . que enfrentaram chuva, vento, inundação, tremor de terra, calor, sol, engarrafamento, copa no Japão, tontura, febre, fome, sede ou simplesmente boiolice . . . pr’aqueles que curtiram distensão, torção, pescoção, quebramento, dor daqui e dali . . . teve gente que foi só pro mate, ou pr’um café, pra comer pão de queijo, pãozinho quente de manhã, ou pr’uma conversa na esquina ao final do dia . . . teve fofoca, teve papo cabeça, papo sem pé nem cabeça, “surtamento”, filosofia, delírio e abobrinha (de muito bom gosto!) . . .. . . teve gente que só reclamou . . . mas teve também quem tudo curtiu . . . teve gente que depois do treino não tomou banho e trocou de roupa . . . teve gente que tomou banho e vestiu a mesma roupa . . . teve gente que esqueceu calça, camisa, sapato, cueca e calcinha . . . até hj não sei se foi pra casa pelado! . . . teve gente que suou muito, demais, torneira aberta (será que foi xixi?) . . . que molhou o chão, que rolou no chão só pra perturbar . . . que não se perfumou . . . que riu e que chorou . . . que ficou bravo, irritado, cansado, alegre, acabado, feliz . . . que, depois de 500 abdominais, ficou com dor nas costas, nas pernas, no pescoço . . . que no dia seguinte não conseguiu andar, dor nas pernas, nos pés, nas costas, nos braços, no pescoço, nas orelhas, no nariz, na bunda, na mão, no pensamento . . . doía tudo que tinha direito . . . e o que tinha esquerdo também . . . doía o que podia e o que não podia . . . até parecia caso de velhice . . . mas que nada, no geral eram só frescuras . . . de vez em quando um vento fresco . . . geralmente ventava quente . . . . ventilador? Só se for pra assar!. . . horas, dias, meses, anos de muito suor . . . de muito bom suor . . . “é bom suar madame!” . . . bom dia! . . . boa tarde! . . . boa noite! . . . teve gente que perdeu os modos . . . teve gente que nunca teve . . . teve gente que aprendeu os modos . . . “ni hau ma!” . . . “tche kim!” . . . “é assim que se escreve, professor?” . . . “não sei, só sei que assim é bom falar!” . . . falar e suar . . . contar em chinês abrasileirado . . . em cantônes com xiado . . . contar cansado . . . perder as contas de tanto chutar . . . quantos chutes pra dar? . . . alguém contou? . . . teve quem foi chutado, que deu soco e foi socado, levou cabeçada, arranhada, porrada cotovelada, pisada, bundada, joelhada, cusparada e babada . . . de tudo teve um pouco . . . teve gente de todo tipo . . . só não teve santo baixando . . . cada qual com seu particular pra contar . . . dedo quebrado, costela fissurada, pé torcido e até unha encravada (isso dói!) . . . teve quem foi costurado . . . engessado também teve . . . teve muito pulo, salto, cambalhota, polichinelos . . . pra descansar, mais chutes, mais socos, mais abdominais . . . e pra quem tava cansado um pouco de “mapu”, um pouco de “kunpu”, um tanto de não sei mais qual pu . . . cansou? . . . só mais um pouco! Agüenta firme! Mantêm!!!!! . . . teve charuto . . . do bom e do barato . . . teve chá e teve cerveja . . . também teve “pum” (teve sim! confesse quem fez!) . . . novos amigos . . . gente boa, gente chata, gente suada (todos!), gente, gente, gente é tudo igual, descalço, sujo e suado, todo rei vira mendigo . . . daí é que fica bom . . . ia me esquecendo: também teve “kati” . . . a parte mais divertida . . . ensinar, aprender, esquecer, não lembrar, se odiar por não saber onde foi parar . . . onde foi parar? . . . parou? Estacionou? Ficou no lugar? Congelou? . . . ficar feliz por algum amigo ajudar a lembrar. . . sapoti . . . poussam . . . róchuam . . . limpochão . . . tam tam tam tui! . . . é cada nome . . . andar de quatro, de cabeça pra baixo, igual macaco, tigre e jacaré . . . aranha, hipopótamo e sapo . . . de cada pessoa, um rosto, um amigo, uma vivência . . . convivência . . . batendo braço, dando canelada, é braço com braço, canela com canela, canela com braço, braço com canela . . . no final é um “bafinho de dragão” . . . foi a Evelyn quem inventou . . . misturou uns troços esquisitos e deu pra gente passar no braço . . . na canela . . . onde der e vier . . . no cangote! . . . quem levou sabe que arde . . . e como arde . . . mas depois de pancada, é o que há de melhor . . . santo remédio! . . . mas pra estresse, cansaço, o bom mesmo é empurrar . . . empurrar e jogar no chão . . . quem caiu sabe como é bom . . . melhor ainda jogar no chão . . . cair e levantar . . . chutar e socar . . . bater e apanhar . . . pular, saltar, chutar, empurrar, levantar, rolar, fazer pirueta, dar salto mortal . . . se concentra . . . vai! . . . confia e vai . . . se arrasta pelo chão . . . cada movimento um aprendizado . . . cada aprendizado um universo . . . compartilhado!!!!!
(Porto Alegre / dezembro 2006)